segunda-feira, 25 de julho de 2011

Lula já percorre País para vetar prévias no PT e negociar as alianças de 2012

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é contra a realização de prévias no PT para a escolha de candidatos às prefeituras, em 2012, e já trabalha para evitar a prática. Lula avalia que o modelo com voto dos filiados, tradicional no partido, deixa sequelas na disputa e mais atrapalha do que ajuda na atual temporada de costumes políticos pragmáticos.
Em viagens pelo País, Lula já está articulando candidaturas e alianças com o PT. Em São Paulo, ele está disposto a bancar a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, à revelia do PT. Pouco afeito a gestões políticas, Haddad enfrenta resistências na seara petista.
O empenho de Lula para varrer as prévias do mapa eleitoral não vale só para São Paulo. Ele combinou com a presidente Dilma Rousseff que cuidaria da montagem dos palanques nas principais capitais e enquadraria o PT. Aliancista, Lula avalia que o PT só deve apresentar candidato onde tiver reais chances de ganhar.
Caso contrário, recomenda ceder a cabeça da chapa para uma outra legenda. "Em determinadas situações, precisamos juntar todos os diferentes para enfrentar os antagônicos", diz o ex-presidente. "Quem tem responsabilidade com o projeto nacional faz suas contas olhando para o futuro", observa o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).
Novidade.
Em São Paulo, Lula avalia que é preciso um nome novo na praça para enfrentar a "máquina" da Prefeitura, comandada por Gilberto Kassab (fundador do PSD), e também do governo, dirigido por Geraldo Alckmin (PSDB). Além disso, há o fator Gabriel Chalita, deputado que migrou do PSB para o PMDB e assusta os petistas.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) está na frente nas pesquisas, postula a indicação do partido para concorrer à Prefeitura de São Paulo - que já administrou de 2001 a 2004 - e acha que é a única em condições de derrotar José Serra (PSDB), apesar de enfrentar alto índice de rejeição. "Serra diz que não vai ser candidato, mas vai. Seria uma boa oportunidade para uma revanche", afirma ela, que perdeu a eleição para o tucano, em 2004.
Marta foi surpreendida pela movimentação de Lula, ficou contrariada, mas não crê que a candidatura de Haddad seja fato consumado. De qualquer forma, não pretende disputar prévia. Há, porém, quem prometa defender esse método até o fim, caso não haja acordo.
Ex-marido de Marta, o senador Eduardo Suplicy (SP) quer agora concorrer novamente à Prefeitura de São Paulo, cargo que já disputou em 1985 e 1992. "Por onde passo, todos me perguntam por que eu não sou candidato. Eu me disponho a ser e considero as prévias o mecanismo mais democrático do PT", insiste Suplicy, que praticamente obrigou o ex-presidente Lula a disputar com ele uma dessas primárias para definição do candidato ao Planalto, em 2002.
Trincheira.
Na prática, porém, Lula está de olho em 2014 ao promover articulações políticas para a eleição do ano que vem. "Não basta falar mal dos tucanos na véspera da eleição. Se a gente trabalhar direito, o Estado de São Paulo ficará pronto para a gente governar em 2014 e teremos um palanque forte para a Dilma", afirmou Lula no encontro estadual do PT, em Sumaré (SP), no mês passado. "São Paulo virou a trincheira da oposição ao nosso projeto nacional e é a nossa prioridade", argumenta o presidente do PT paulista, Edinho Silva.
O PT quer desbancar o PSDB, que ocupa há 16 anos o governo de São Paulo, mas está dividido. Até mesmo o grupo de Marta rachou e dois de seus ex-secretários - os deputados Jilmar Tatto e Carlos Zarattini - também são pré-candidatos à Prefeitura. Antes cotado, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, não deve entrar no páreo. Mercadante foi o candidato do PT ao governo de São Paulo em 2010. Dificuldades.
O quadro, porém, não é fácil para o PT nos maiores colégios eleitorais do País. Além de São Paulo, o partido está cindido em Minas Gerais, não sabe que rumo seguir no Rio Grande do Sul e muito menos em Fortaleza, Recife e Curitiba. Para completar, o Supremo Tribunal Federal (STF) prevê o julgamento dos réus do mensalão - maior escândalo do governo Lula, revelado em 2005 - para o primeiro semestre de 2012.
O PT teme que o escândalo de 2005 seja ressuscitado, dê munição aos adversários e contamine a disputa. Em conversas com petistas e com a própria presidente Dilma Rousseff, Lula também prometeu atuar para desmontar o que chama de "farsa" do mensalão. Até agora, porém, o ex-presidente não deixou claro quais serão suas ações e sua estratégia. Mesmo depois de deixar o Palácio do Planalto, o ex-presidente nunca disse quem o traiu.

DNIT não cobrou de empreiteiras correção de irregularidades graves da BR-267 em MS

A reportagem do Midiamax percorreu os mesmos trechos da BR-267, como em março deste ano, para checar se o Dnit havia cumprido a determinação do TCU, de fazer com que as empreiteiras resolvessem os graves defeitos da pista, que surgiram depois de trechos da obra terem sido entregues ao tráfego.
Em nota à reportagem, o DNIT havia informado que os gastos com as correções seriam bancados pelas empreiteiras.
Mas agora, ao cruzar a BR-267, a reportagem encontrou novos e graves problemas naquilo que se pode chamar de "a reforma da reforma" da rodovia. Ondulações, rachaduras e remendos em profusão indicam que o velho "tapa-buraco" ajudou no acobertamento dos erros de engenharia.
O trecho mais danificado, próximo à Casa Verde, recebeu mais uma camada de asfalto sobre a pista, que estava totalmente esburacada depois das obras de reconstrução. A emenda ficou pior que o soneto porque já se formaram ondulações no local e o asfalto começa a ceder. Portanto, não será possível esconder os problemas debaixo do "tapete" de asfalto.
Mesmo assim, a Sucesso Engenharia, responsável pelo trecho, tem recebido seus pagamentos normalmente.
Dnit manda governo federal pagar empreiteira
No caso da BR-267, os principais problemas surgiram no trecho da Sucesso Engenharia, uma empresa do Piauí, que tem muitos contratos no Maranhão. A empresa já foi investigada em 2006 pela Polícia Federal por participação no caso Lunus, aquele do financiamento ilegal da campanha de Roseana Sarney à presidência da República, quando foram apreendidos R$ 1.500 milhão.
Mesmo com as irregularidades apontadas pelo TCU na BR-267, a empreiteira continua recebendo pagamentos avaliados pelo Dnit normalmente. A mesma coisa vale para as demais empreiteiras, mesmo que em seus trechos o asfalto apresente muitas ondulações e remendos visíveis.
Consultada pela reportagem, a assessoria da sede do Dnit em Brasília, garantiu que a "fiscalização das obras fica a cargo das superintendências regionais, que remetem as medições dos serviços efetuados (conferência daquilo que foi realizado) à sede da autarquia".:
Anonimamente, por temer retaliações profissionais, um engenheiro que atua em obras também no MS e em vários estados brasileiros, analisou tecnicamente as imagens gravadas na BR-267 pela reportagem, no último dia 21, quinta-feira passada.
Formado numa escola de engenharia da cidade de São Paulo e entrando na meia idade, portanto experiente, o engenheiro foi taxativo ao afirmar que os problemas da rodovia estão relacionados à base da estrada, que é a principal camada de sustentação do asfalto.
"Como a camada de asfalto é um pavimento flexível, não rígido como o concreto, qualquer defeito da base onde ela se apóia e sustenta compromete a pista de rolamento, aparecendo rachaduras, ondulações e o famoso couro de jacaré" (quando o asfalto vai formando pequenas fendas interligadas), garante ele.
"Sempre é preciso fazer um estudo criterioso para evitar a presença de água na base, por penetração direta ou capilaridade, quando a umidade sobe. Uma boa drenagem é a solução", complementa. O consultor acredita que nos piores trechos da BR-267 foi feito um revestimento mais fino, "para esconder o problema", se referindo à última e recente camada de asfalto colocada na pista esburacada. Segundo ele, o correto seria corrigir os problemas da base na própria restauração.
"Desse jeito e com esse tráfego pesado não vai durar um ano", sentencia.
Histórico de acobertamento
Em março deste ano, a reportagem do Midiamax mostrou o péssimo estado da BR-267 depois de uma reforma milionária de R$ 250 milhões, que deveria restaurar integralmente o pavimento e os acostamentos da rodovia.
A reportagem se baseou em auditoria do Tribunal de Contas da União que, em abril de 2010, concluiu inspeção que constatou irregularidades graves na obra como superfaturamento, uso de materiais inadequados e fiscalização omissa do Dnit/MS.
A direção do Dnit/MS nem sequer promoveu a contratação de empresa especializada em fiscalização de obras para que pudesse evitar os danos irreparáveis à rodovia e aos cofres públicos.

A BR-267 é a única rota de caminhoneiros que descem de Rondônia, Mato Grosso e grande parte do MS, em direção ao Porto de Santos ou empresas que industrializam os grãos do Centro-Oeste.
Pelas irregularidades graves que constam no acórdão 2959/2010-TCU, de novembro de 2010, o Tribunal responsabilizou diretamente o superintendente do Dnit-MS, Marcelo Miranda, os principais engenheiros do órgão regional, ressaltando a omissão na fiscalização das obras.
No relatório do acórdão 2959-TCU, o nome de Marcelo Miranda é citado sete vezes, em tópicos que o responsabilizam da "decisão pelo prosseguimento das obras de restauração da BR-267/MS, a despeito da insuficiência da fiscalização própria do DNIT e da inexistência de supervisão contratada", o que fere a lei 8.666 das licitações.
"Ao prosseguir na execução dos contratos de restauração sem fiscalização suficiente, a administração incorre no risco de pagar por serviços não executados e por outros de qualidade inadequada", afirmou o relator do TCU, José Múcio Monteiro.
No projeto das obras realizadas pelas empreiteiras Fidens, Delta, Almeida e Filho e Sucesso, o ex-secretário de Obras do MS, Edson Girotto e o governador André Puccinelli tiveram destacada participação, segundo afirmou à época o próprio deputado do PR.
"Isso foi um trabalho do André, do Marcelo, da bancada e nosso, técnico, meu e do Guilherme, para ajudar", afirmou Girotto. Guilherme Alcântara de Carvalho, citado por ele, é o segundo nome na hierarquia do Dnit/MS.
Depois de concluir seus trabalhos, o TCU encaminhou o acórdão para a Comissão de Finanças e Fiscalização do Congresso Nacional, em 3 de novembro de 2010, presidida pelo deputado Waldemir Moka, hoje senador. Ali, o assunto não mereceu destaque.
O caso agora deve ser investigado pelo Ministério Público Federal, segundo informou a Controladoria Geral da União – CGU, no último dia 20. As investigações vão se concentrar nas BRs 267 e 163, que têm as mesmas irregularidades graves e que são visíveis aos olhos de qualquer um que trafegar por essas rodovias.