O presidente em exercício da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Jonathan Barbosa, em entrevista ao Midiamax, faz duras críticas ao modo de aplicação dos recursos do Fundersul, bem como na maneira que o governador André Puccinelli tem interferido em questões que envolvem entidades classistas e definições políticas que deveriam ser assunto exclusivo de outras siglas partidárias que não são a sua, o PMDB.
Um dos maiores descontentamentos de Jonathan, que é um dos fundadores do PSDB no Estado, é sobre a ida de Antônio Russo (PR) para o Senado, o que ele qualifica com "uma manobra política suja" desde que foi definida a tucana Marisa Serrano na eleição ao Senado há seis anos. Confira.
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Midiamax – Sobre Antônio Russo hoje estar ocupando a vaga de senador deixada por Marisa Serrano, que foi para o TCE. Que sentimento o senhor tem, como fundador do PSDB no Estado?
Jonathan Barbosa – Sobre isto respondo que “a situação está russa! (risos). Eu digo, sem medo de errar e ser interpretado mal, que isto foi obra de arte do governador André Puccinelli. Não tem nada de Jerson Domingos (presidente da Assembléia), como tentam dizer. O Jerson fez o que ele (André) pediu. O quórum da assembleia votou no que ele queria.
Midiamax – E sobre a indicação de Marisa Serrano para o Tribunal de Contas deixando esta brecha para Antônio Russo assumir?
Jonathan Barbosa – A questão da Marisa nós já sabíamos por que ela estava procurando uma saída honrosa da política. Ela não queria disputar mais eleição, talvez porque já tenha problemas de natureza particular e porque ela acha que eleitoralmente seria difícil, já que o próprio governador iria bater chapa com ela. Tenho certeza que ao deixar o governo ele é candidato ao Senado e na única vaga que vai ter que é a dela. Ele (Puccinelli) já foi padrinho do Antônio Russo uma vez e agora de novo.
Da primeira vez foi quando plantou o Toninho Russo como primeiro suplente da Marisa. Eu, inclusive, nesta oportunidade, fui contra. Eu e outros como o Waldir Neves, a Tereza Cristina, fomos lá pra saber como seria a aliança. Ali então ele (André) falou: posso dar pra vocês (PSDB) a vaga ao Senado. Nós entendemos que viria a primeira suplência também, daí alguém falou: Quer dizer que temos também os dois suplentes? E ele: Não! Os dois não posso dar porque a primeira já tenho compromisso com o Toninho Russo. Eu fui voto vencido porque queríamos que fosse o Rubem Figueiró, mas a maioria acabou aceitando pra não perder a vaga para a Marisa.
Na verdade, ele não deu a vaga para o PSDB porque ele meteu um PR lá. Agora ele faz uma mexida e faz o homem (Russo) senador. Numa estratégia tira a Marisa da área e manda para o TCE. Posso falar como líder classista desta área rural que foi penalizada por este dito empresário do setor frigorífico, um dos homens que mais prejuízo deu para os pecuaristas deste estado.
Midiamax – Qual a opinião do senhor sobre estas intervenções do governador?
Jonathan Barbosa – O governador não deveria se meter nisto. Ele sabe que o Estado é eminentemente produtor de grãos e de carne. Ele premiar quem deu calote, inclusive teve gente que teve infarto por causa do calote do frigorífico do Russo (Independência) porque vendeu o boi e não recebeu por ele. Isto foi muito traumático para nossa classe. Não queremos e não podemos aceitar e muito menos compreendermos esta manobra suja. Acho que um estado como o nosso, neste momento, tem que tomar outro tipo de comportamento. Um senador que tem domicílio eleitoral em Nova Andradina, mas mora em são Paulo, não pode nos representar. Não é nada pessoal, mas a Acrissul deplora esta atitude.
Midiamax - Um das grandes reclamações do setor rural é sobre o Fundersul...
Jonathan Barbosa - Sim. A gente sempre lutou para que o Fundersul seja aplicado de acordo com o que se propõe e ele (Puccinelli) não gosta que se fale nisto. Talvez este mal-estar do governador com a Acrissul tenha nascido exatamente por causa da questão do Fundersul. Faz tempo que estamos tentando uma audiência com o governador para discutir com ele esta questão. Queremos procurar como melhor aplicar estes recursos. Porque o fazendeiro é o único que paga, mas todos usam. Ele não tem estradas, não tem ponte e padece por isto. Isto é caótico.
Admiro que a Assembleia Legislativa não tenha ainda chamado para a ordem esta questão. É injusto para quem paga, se é que tem que pagar. Temos que ter uma contrapartida. Se nós renovarmos nosso mandato, temos o compromisso de continuarmos com esta luta. Entendemos que o Fundersul como está é uma aberração.
O Fundersul já passa a ser palavrão, uma vergonha. Do jeito que está não podemos aceitar. Quero frisar que sou político do portão pra fora da Acrissul. Lá dentro não fazemos política como dizem, embora todos tenham algum partido que simpatize.
Midiamax – O senhor falou de interferência do governador nas questões classistas. Isto chegou também na eleição da Acrissul?
Jonathan Barbosa – eu entendo que quando você elege um governador, independente do partido, o compromisso que ele tem é o de cuidar da macropolítica, dos assuntos do governo, do Estado. Este nosso governador resolveu intervir, se intrometer em todo tipo de questão, inclusive nas associações de classe e partidos políticos como o PSDB. Ele pensa que o PSDB é um brinquedinho dele. Tenho uma história política e nunca vi um governador do Estado fazer coisas como este: jogando pesado, assediando. O conheço bem. Fui deputado, fui seu presidente. Sei que ele gosta de fazer isto.
Mas, falando da Acrissul, a história agora vai ser diferente: não vamos permitir isto. A Acrissul é uma entidade de 83 anos e não adianta usar chavão eleitoral “precisamos tirar a petezada de lá”, porque lá dentro ninguém faz política, mas quando um partido, como o PT, ou outro, nos ajuda, falamos. Se outro ajudar, também vamos falar.
O governador fala da gente, mas quando vai a Brasília tenta parecer mais PT do que o próprio PT. Ele beija a mão da Dilma e ainda a chama de fada madrinha. O governador devia se preocupar com outras questões como a da Santa Casa. Ele foi prefeito oito anos e vai ficar governador mais oito. Se não age como político, que pense ao menos como médico e ajude a Santa Casa que corre o risco de fechar suas portas.